quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Deu na Veja.com: "Um grande jogo de Lego"


  • Na contramão dos exorbitantes gastos em obras para atender grandes eventos, como aconteceu na construção dos estádios para a Copa do Mundo de 2014, a cidade do Rio de Janeiro encabeça estratégias construtivas e no design da desconstrução para os Jogos Olímpicos de 2016. A ideia é desmontar e remontar edifícios inteiros. Confira na íntegra a reportagem da Veja.com.

    Celebração da superação e da excelência nos esportes, as Olimpíadas também passaram a ser eventos nobres no calendário dos arquitetos à medida que foram crescendo em modalidades e importância. Vitrines de projetos inventivos e experimentações ousadas, as instalações esportivas serviram de palco para espetáculos de poder e opulência, traduzidos sobretudo nos estádios: o de Sydney, em 2000, tinha 110.000 lugares, o maior já erguido; o de Atenas, em 2004, exibia um teto retrátil em arco assinado pelo prestigiado espanhol Santiago Calatrava; o de Pequim, em 2008, era um primor de graciosidade e leveza na forma que lhe deu nome, o Ninho de Pássaro. Foi espetacular enquanto durou, mas durou pouco — a maioria transmutou-se no temido elefante branco. Lição aprendida, agora os tempos são outros, e muito mais contidos.

    As obras no Rio de Janeiro, que começam a deixar as pranchetas, já são um espelho da era da contenção. Em 2016, o “estádio olímpico” será o bom e velho Maracanã, rejuvenescido pela reforma pré-Copa do Mundo. Seguindo uma tendência iniciada nos Jogos de Londres, o design predominante é o da desconstrução: estruturas que podem ser desmontadas completamente ou rearranjadas e remanejadas conforme a necessi­dade. “No mundo esportivo, as obras grandiosas estão cedendo lugar a projetos que sejam reaproveitáveis ao máximo. A nova ordem é: make your assets sweat — faça com que as construções suem tanto quanto os atletas nas competições; elas precisam ter múltiplos usos”, explica o arquiteto Adam Williams, da inglesa Aecom, que concebeu o projeto do parque olímpico carioca.

    Plenamente encaixado nessa concepção, o centro aquático, assinado pela alemã GMP, é uma das maiores estruturas esportivas desmontáveis já erguidas no mundo, com seus 14.000 metros quadrados e capacidade para 18 .000 espectadores. Ele não terá sistema de ar condicionado, só ventilação natural, canalizada por uma fachada sem paredes — serão 492 canos verticais dispostos a 1 metro de distância um do outro — e por furos nos degraus das arquibancadas, um esquema inovador testado em maquetes submetidas a túneis de vento. Os acessos saem da chamada via olímpica, uma espécie de passarela que percorre todo o terreno. No parque aquático, como nas demais instalações, não há elevadores para o público em geral. Compostas de módulos metálicos, as duas piscinas, uma oficial e a outra de aquecimento, vão ser desmontadas e reconstruídas em outros locais; da mesma forma, os tubos e demais componentes da estrutura vão ser armazenados e reutilizados, mas ainda não têm destino certo — este, aliás, um aspecto da etapa pós-­Jogos a ser acompanhado com toda a atenção. “Nossa grande preocupação era projetar um edifício ao mesmo tempo bonito e funcional. Os tubos formam um desenho que imita as ondas do mar e dão uma ideia de leveza”, descreve o arquiteto alemão Ralf Amman, da GMP. É dela também o projeto do centro de tênis, igualmente com tubos na fachada e linhas onduladas.

    O centro aquático faz parte do parque olímpico de 1 milhão de metros quadrados (a metade do equivalente londrino), instalado em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. “É um parque compacto”, diz Williams, da Aecom. “Para que coubesse tudo, inclusive áreas de convivência e de circulação agradáveis, planejamos os espaços como se fossem as engrenagens de um relógio.” Além das piscinas, o espaço abriga o velódromo, a quadra de handebol, o centro de tênis e um conjunto de três arenas multiúso (onde, para poupar terreno, as costas de uma arquibancada são coladas às de outra, separadas apenas por um sistema de isolamento acústico).

    Só o velódromo — que lembra um capacete de ciclismo e acomoda 5.000 pessoas — é obra 100% definitiva, que permanecerá como está. O centro de tênis e as arenas terão as dimensões drasticamente reduzidas, para se adequar à demanda da cidade. A quadra de handebol também vai sumir da paisagem — que passará a integrar, junto com a vila olímpica (onde estão as acomodações dos atletas), um bairro novo no Rio de Janeiro. Fruto dessa arquitetura nômade, a arena é feita em blocos que serão desmontados e, em boa parte, já têm destino definido: vão compor a estrutura de quatro novas escolas municipais. “Foi praticamente um exercício de peças de Lego. Tivemos de projetar tudo no tamanho certo, ir e voltar no planejamento várias vezes”, conta o arquiteto-chefe Gilson Santos. Outra preocupação foi contratar a mesma empresa de engenharia para montar, desmontar, transportar, armazenar e depois remontar a instalação em outro local. A ideia é garantir que as peças sobrevivam incólumes às idas e vindas.

    A exigência de funcionalidade das construções olímpicas é fruto de duas mentalidades relativamente novas. Uma, de caráter urbanístico: por força de uma revisão de prioridades percebida no mundo todo, as metrópoles modernas estão priorizando projetos cada vez mais práticos e sustentáveis. Outra, do próprio universo olímpico: as cidades não brigam mais para sediar os Jogos; pelo contrário, é o próprio Comitê Olímpico que procura atraí-las com a garantia de um legado relevante. “Construções como as que estão sendo feitas no Rio exigem projetos muito bem pensados e grande conhecimento técnico”, afirma Roberto Anderson Magalhães, professor de urbanismo da Faculdade de Arquitetura da PUC-Rio. As obras estão apenas começando. Se elas não forem desvirtuadas em desvios de verbas e atrasos, tão costumeiros no Brasil, a arquitetura da Olimpíada do Rio poderá deixar uma marca positiva e duradoura tanto na cidade quanto na própria história das competições.


    Extraído do site: www.veja.abril.com.br

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Deu na Folha.com: “Criação de ciclovia na avenida Paulista exige aval do patrimônio histórico”

  • O projeto de uma nova ciclovia no canteiro central da Avenida Paulista, em São Paulo, terá de ser avaliado por órgãos de defesa do patrimônio público. Isso porque a via seria implantada numa área que integra o entorno de edifícios tombados, como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o Conjunto Nacional e a Casa das Rosas. A proposta – que tem conclusão prevista para o final deste ano – também exigiria a remoção de plantas, relógios e postes, entre outras intervenções. A prefeitura de São Paulo ainda não apresentou um pedido formal para a aprovação do projeto, cujo processo pode durar meses. Confira na íntegra a reportagem publicada na Folha.com.

    Os órgãos de defesa do patrimônio histórico terão que avaliar a implantação de uma ciclovia no canteiro central da av. Paulista, na região central de São Paulo, apesar de a gestão Fernando Haddad (PT) planejar que a estrutura fique pronta até o fim do ano.

    A análise é necessária porque a via é considerada área envoltória de prédios tombados, como o Masp e o Conjunto Nacional. Além disso, a ciclovia vai exigir intervenções como a remoção de plantas, relógios e postes.

    O projeto da prefeitura é alargar o espaço do canteiro para 4 m (hoje são 3,5 m) para criar uma faixa de bicicletas de dois sentidos. Para isso, as faixas de tráfego motorizado serão estreitadas –são quatro de cada lado.

    Nesta terça (2), o Conpresp (conselho do patrimônio municipal) informou inicialmente que, por se tratar de uma obra, precisaria de sua aprovação. Depois, disse que precisa analisar o projeto detalhado para decidir se sua anuência é necessária.

    Segundo o órgão, ciclovias mais simples, que envolvem apenas pintura do solo e placas de sinalização, não precisam de aprovação mesmo perto de bens tombados. Um exemplo é a ciclovia em frente ao Theatro Municipal.

    O Condephaat (conselho estadual) e o Iphan (federal), que também tombaram prédios da Paulista, informaram que a aprovação será necessária. Nenhum pedido formal de aprovação foi apresentado nos três órgãos –os processos podem levar meses.

    AJUSTE

    Haddad, que conheceu o projeto da ciclovia ontem, disse que o canteiro "não é usado hoje". Afirmou avaliar não ser necessária aprovação para a ciclovia.

    "Não tem tombamento do canteiro. O que tem tombamento é área envoltória, mas acho que é um ajuste viário, não obra propriamente".

    O secretário Jilmar Tatto (Transportes) disse compartilhar da avaliação, mas que submeterá o projeto aos conselhos se for necessário. "Se tiver [que aprovar], a gente pede. Imagino que o Conpresp não vai ser contra."

    Segundo Haddad, assim que a obra for iniciada o prazo de implantação é de 90 dias. "Dentro de uma normalidade, é possível fazer até o fim do ano. Não é uma obra complexa", disse Tatto.

    O secretário disse que será necessário fazer um plano de trânsito no período de obras e os trabalhos serão feitos preferencialmente na madrugada.

    A ciclovia será elevada em relação às faixas de tráfego e terá grades de proteção perto de semáforos, segundo Tatto, para aumentar a proteção dos ciclistas na saída junto com os carros.

    A obra também será aproveitada para a passagem de cabos de fibra ótica pela avenida –usados para transferência de dados por empresas e para controlar semáforos, por exemplo. Hoje, o recurso existe apenas na alameda Santos, segundo o secretário.

    A ciclovia da Paulista vai se conectar à da rua Vergueiro, passando pelo viaduto Paraíso ou pela avenida Bernardino de Campos –o trajeto está em avaliação. Na outra ponta, ela cruzará a rua da Consolação e seguirá pelo bairro até o Pacaembu.

    BULEVAR

    Antonio Carlos Franchini, presidente da Associação Paulista Viva, disse que o projeto da ciclovia na avenida deveria ser mais discutido e o impacto da estrutura avaliado para pedestres, motoristas, motociclistas e usuários do transporte.

    "Somos a favor de todas as iniciativas para melhorar a mobilidade urbana, a implantação de ciclovias é um avanço de cidadania. Mas os impactos devem ser discutidos por toda a sociedade", diz.

    Ele avalia que a travessia de pedestres poderá ficar mais difícil sem o canteiro, usado como abrigo por quem não consegue cruzar a Paulista de uma vez. "Você precisa andar muito rápido para andar de um lado ao outro. São 400 mil pessoas, aproximadamente, que circulam pela Paulista todo dia."

    Também considera que, com o estreitamente das faixas de tráfego, haverá impacto para a circulação de motos.

    Franchini diz ainda que deveriam ser avaliadas alternativas como implantar a ciclovia à direita, onde hoje existe a faixa de ônibus, ou então usar vias paralelas à Paulista.

    "Eu diria, sem ser urbanista, que [a ciclovia] descaracteriza um pouco toda aquela ideia de bulevar da Paulista, a grande avenida, com iluminação central. Quebra um pouco a visão de olhar uma ponta à outra", diz.

    ATRATIVOS NA CALÇADA

    "Vai haver ciclistas fora da ciclovia, para poder acessar mais facilmente o comércio", opina Ricardo Corrêa, da TCUrbes, empresa que projeta ciclovias em todo o Brasil.

    Em países como Alemanha e Holanda, já houve ciclovias no canteiro central, mas, com a evolução do sistema, elas foram eliminadas, diz Corrêa.

    "O ideal é pegar a faixa da direita para a bicicleta e deslocar os ônibus para o centro", diz Gabriel di Piero, diretor da Ciclocidade (associação de ciclistas urbanos de SP).

    Para o engenheiro de transportes Sergio Ejzenberg, primeiro os ônibus deveriam ser colocados no centro da via, em corredores. Só depois o espaço da bicicleta deveria ser pensado.

    A gestão Haddad optou pela implantação da ciclovia no canteiro central por ser o modo mais rápido, de acordo com interlocutores do prefeito, que aposta nas bicicletas como nova marca de governo.

    Haddad promete construir 400 km de ciclovias até o fim de 2015. Desde junho, quando divulgou a ampliação da meta, foram criados 44,9 km de ciclovias na cidade.

    Para ciclovia ser feita junto à calçada, no bordo direito da pista, seria preciso desativar a faixa exclusiva de ônibus existente e construir o corredor à esquerda, o que depende de processo de licitação, normalmente demorado.

    As obras das ciclovias estão sendo feitas na modalidade de pregão, mais rápidas.

    www1.folha.uol.com.br
Extraído do Site:http://www.arqbacana.com.br/